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Vivemos em uma sociedade que bombardeia seus habitantes com conteúdos sexuais à exaustão, combinando exposição máxima e uma visão limitada e frequentemente agressiva das atividades sexuais.
Uma criança que cresce em uma grande cidade do ocidente, provavelmente se intriga com os mistérios que envolvem o tema no discurso dos adultos, ao mesmo tempo em que é traumatizada pelo grotesco de boa parte das cenas que circulam na televisão e na internet, quando elas “escapam” e se encontram com territórios da infância.
Por grotesco, entendo as intenções de dominação e agressividade praticadas por homens contra mulheres, que é a norma nos conteúdos pornográficos.
Dessa forma, a criança que cresce e cujo corpo e mente se desenvolvem sexualmente, obtém seu amadurecimento sexual de forma velada; enquanto seu acesso a tais conteúdos maléficos aumenta de forma exponencial, conforme ela avança em direção à fase adulta.
O resultado disso é que conteúdos pornográficos se tornam nossos principais educadores sexuais, ao lado de algumas poucas aulas confinadas à disciplina de biologia, cujos ensinamentos são responsáveis por grande equívocos, os quais veremos adiante.
De vinte anos para cá, o acesso a esse tipo de conteúdo foi grandemente facilitado. O aumento da velocidade de transferência de dados de navegação favoreceu a disponibilização massiva e gratuita de vídeos distribuídos em categorias, cuja filmagem envolve na maior parte das vezes a prática de crimes diversos, tais como agressão e degradação moral, condições irregulares de trabalho e de higiene, estupro, sequestro, pedofilia, entre outros.
Em uma sessão curta de acesso a conteúdos pornográficos, centenas de imagens dessa natureza são enviadas para a mente de uma pessoa. O seu caráter chocante contrasta intensamente com as visões cotidianas da maior parte das pessoas, e sua interferência no desenvolvimento mental é enorme.
Em relação às mulheres, o mundo se apresenta hostil e o medo é cultivado.
Em relação aos homens, sua natureza humana genuína, o desejo de amar, de contar com uma parceira ou um parceiro para suportarem juntos as cargas emocionais da vida, são minados por comportamentos agressivos de origem externa.
A partir daí, a maioria dos homens segue dois caminhos: converte-se em um agressor explícito e cheio de ódio, ou se desenvolve como um homem de atitudes predominantemente machistas, ainda que sejam sutis, mas que possui intenções amorosas verdadeiras.
No último caso, como suas ações agressivas e infiéis são contraditórias a seus sentimentos originais, é frequente que ele desonre a relação íntima que mantém com uma mulher, nos termos acordados por ambos; isto leva à frustração do casal quando a verdade vem à tona, e pode paralisar o andamento natural da vida temporariamente, conforme o tamanho do estrago causado.
A paralisia ocorre quando a dor emocional é grande o suficiente para sobrepor o funcionamento normal dos demais aspectos da vida, tais como o trabalho, os estudos, exercícios, diversão etc. Esta é uma forma de controle, pois uma pessoa cujo coração está ferido não tem condições de reunir forças para se manifestar.
Incentivar esse tipo de cultura é enfraquecer deliberadamente a mente do ser humano, golpeando-a a partir de várias direções ao mesmo tempo: posicionando uma força desintegradora de relações ao lado de princípios como o compromisso imutável do casamento. O resultado disso é que a maior parte dos casos de agressão e abuso sexual contra mulheres é perpetrado por seus cônjuges ou familiares do sexo masculino.
Enfim, o homem frequentemente se desenvolve como um agressor patético e moralmente enfraquecido, mentiroso e adepto de práticas “secretas”, que demandam energia para ocultar de seus parceiros íntimos, e que pesam na consciência.
Estes são os efeitos da energia sexual desgovernada, e se seu poder de destruição é tão grande, na mesma medida ele pode ser produtivo e fortalecer o ser humano, quando canalizado para uma direção saudável.
Nas aulas de biologia aprendemos que a produção de espermatozoides é constante, e este fato é extrapolado para sugerir que essa produção é infinita e gratuita, ideia totalmente desprovida de lógica. A produção de espermatozoides não é baseada em uma energia infinita do além; ao contrário do que se propaga, envolve uma grande taxação energética de todos os sistemas do corpo.
O acúmulo de espermatozoides leva ao envelhecimento e desgaste dos mesmos, o que permite que sua energia vital seja reabsorvida pelo corpo; por esse motivo, afirma-se que a perda de energia sexual no homem acontece na ejaculação. Aliada a uma poderosa descarga hormonal, estes dois fatores provocam cansaço temporário ao passo que sua repetição tem efeitos de longo prazo.
A perda de energia sexual é um processo cíclico natural. Na mulher, está atrelado à menstruação, ao longo de um período espelhado com o ciclo lunar de 28 dias. Na maior parte dos casos, a mulher se encontra mais alinhada com seus ciclos naturais do que o homem, que os ignora por completo, ainda que sofra seus efeitos.
Por trabalhar com um fluxo energético mais amplo e estável, é comum que as mulheres exibam qualidades intuitivas mais refinadas, e o reconhecimento dessa energia é uma ferramenta poderosa de proteção e de autoafirmação, geralmente desprezada em nossa sociedade excessivamente racional.
Acredito não haver exemplares do gênero masculino de qualquer espécie viva, que desperdicem sua energia sexual de maneira tão compulsiva, a ponto de atingir o esgotamento como faz a espécie humana.
Tal compulsividade e desinformação é responsável por hábitos desastrosos, como o de “descarregar” – muitas vezes poluindo a mente com imagens repulsivas – antes da união sexual, que é um ato sublime por natureza.
A atividade sexual é uma atividade inerentemente social, envolvendo necessariamente aspectos psicológicos e emocionais, de modo que não pode ser compreendida dentro de uma leitura biológica restrita.
Dentro da tradição taoísta, o corpo é continuamente alimentado por energias de diversas qualidades, das mais densas até as mais sutis. Basicamente, este quadro contempla a energia pré-natal que recebemos de nossa mãe durante o processo de gestação, bem como a energia obtida pelos processos de nutrição e respiração, circulação sanguínea e respiração celular, a energia sexual, energia espiritual, e a energia ancestral, transmitida de geração a geração através das informações contidas no DNA de cada parente envolvido na criação.
Por seu caráter criador, a energia sexual é vista como energia de transição entre as qualidades mundanas e sublimes da vida humana: uma nova alma é alojada a partir da fusão das essências físicas do casal.
Embora nem toda união resulte na geração de um novo ser, é certo que em todas elas há uma troca de energias intensa, que abrange todas as qualidades disponíveis. Esta ligação faz da relação amorosa uma das ligações mais fortes entre as que podem unir duas pessoas.
Se trabalhar sua energia junto com uma pessoa já é uma tarefa que exige dedicação e um grau de comprometimento, certamente há dificuldade em manejar diversos laços emocionais simultaneamente, sem provocar conflitos ou esgotamento.
Contudo, ninguém é melhor do que a própria pessoa envolvida na situação, para avaliar a eficácia de suas ações e as consequências que trazem, dentro de seu contexto.
Para ser seu próprio educador sexual é preciso reduzir a interferência de fatores externos, investigando seus desejos sexuais originais e suas necessidades emocionais.
No primeiro aspecto, especialmente para os homens, este processo de desligamento pode envolver a renúncia aos comportamentos compulsivos – a busca pelo orgasmo e o consumo de materiais pornográficos – o que é semelhante a recuperar a mente de um vício. Ambas são medidas de proteção do corpo e da mente, que visam à preservação da saúde. De início, muitos pensamentos de hesitação podem tomar conta da pessoa, e o acúmulo de energia no centro energético localizado abaixo do umbigo, pode se tornar grande a ponto de oprimir o fluxo normal de pensamentos. Nesse caso, não há culpa em experimentar uma queda energética, mas é prudente permitir que ao longo das semanas e dos meses, os fluidos sexuais sejam produzidos e reconvertidos em energia vital. Para tanto, é preciso readequar o corpo mantendo uma postura perseverante, e de maneira gradativa ele irá se acostumar com novos níveis de energia.
A renúncia ao consumo de materiais pornográficos é fundamental neste sentido, pois favorece que a atividade sexual seja liberada de seus modelos agressivos, permitindo o respeito aos limites e ao ritmo de cada pessoa, sem necessidade de ejaculação, controlando os níveis de prazer através do trabalho respiratório, e mantendo as intenções da mente focadas na partilha de energias com o parceiro.
No segundo aspecto, cada pessoa deve investigar dentro de si, para descobrir quais modelos de relacionamento são conformes ao seu coração. Algumas pessoas se sentem mais confortáveis em um casamento monogâmico, enquanto outras serão mais felizes dentro de um relacionamento aberto, e para outras pode ser melhor não se envolver intensamente, ou não se relacionar por completo. Tal investigação deve ser continuada, pois os momentos da vida, sucedendo uns aos outros, podem pedir respostas diferentes. Qualquer que seja a opção tomada, ela deve ser honrada e a motivação de suas ações deve ser transparente, de forma a evitar mal-entendidos.
Combinando estas práticas investigativas, o desejo sexual não é ignorado, mas sua relevância na tomada de decisões é equilibrada com os aspectos emocionais e com as relações com as outras pessoas. Ao longo do tempo, os níveis de energia e saúde dos indivíduos aumentam, sua consciência fica mais leve, e os relacionamentos podem ser mais produtivos e sinceros.
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Escrito por Marcelo Augusto Felippe Boujikian integrante do PorQueNão? – Canal de Mídia Interdependente. Veja mais artigos aqui.