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Você já ouviu falar em economia colaborativa? Coworking? Crowdfunding? Empresas livres? Novo mundo? Permita-me contar um pouco a respeito do assunto, por meio de minhas experiências, já que, na verdade, as teorias só valem se experimentadas.
Sou de família italiana do interior de São Paulo, onde meus avós criaram os filhos numa economia colaborativa (leia-se roça). Tudo que falamos hoje em dia, usando termos mais elaborados – como permacultura, economia de transição, sustentabilidade e coworking –, para mim é uma perfeita releitura dos tempos da vovó, que plantava o que comia, trocava banana por café, costurava as próprias roupas, buscava professora para dar aula na comunidade e, principalmente, ajudava a todos.
Sempre vi o cuidado que meu pai tem pelos seus pais e irmãos. Foi assim que eles cresceram. O maior cuidava do menor e assim as relações eram permeadas. Na comunidade, o cuidado com o próximo também era característica marcante. Tinha quem olhava os filhos (sonho de consumo de TODAS as mães do mundo), tinha quem cozinhava, enquanto as outras mulheres iam plantar ou colher junto aos homens… Ou seja, tudo girava em torno do coletivo.
Antes, compartilhávamos um copo de açúcar. Hoje, a senha do Wi-Fi. Afinal, somos, em essência, coletivos. Está na nossa gênese. Aqueles que criticam os indivíduos que vivem em suas tribos não sabem o que estão perdendo, ao observar tudo de suas ilhas solitárias. A abundância vem do coletivo, embora este seja o maior desafio a enfrentar. O mundo é capitalista e individualista em sua maioria. Tudo que é ‘novo’ leva tempo para maturar e quem é visionário sempre amarga o tempo do amadurecimento necessário em qualquer processo de semeadura.
Há alguns anos estou vivendo de forma colaborativa em toda minha expressão, me voluntariando para lapidar meu compromisso com o todo e com meu próprio desenvolvimento interior. Pratico o voluntariado há mais de seis anos em uma ONG de palhaços-doutores, a Presente de Alegria, e ali sinto que o altruísmo é a essência mais pura da empatia e do amor.
Também escrevo para a Eco Rede Social, um portal puramente colaborativo, em que todos ecoam o bem, compartilhando o que tem de melhor: artigos sobre os pilares da sustentabilidade, cursos, livros… Está compilado ali nosso desejo de ser mais fortes, de olhar para o planeta juntos, de nos sentir integrados.
Além disso, mudei radicalmente minha forma de trabalhar e estou experimentado o formato de “empresa livre”. Dá um frio na barriga, igual quando descemos uma grande ladeira, e digo que é mesmo uma aventura. Estive por muitos anos dentro de empresas, onde tudo era quadradinho e as funções bem definidas. Por exemplo, não temos que olhar o lixo do banheiro, porque a faxineira está lá todos os dias para isso. As santas e maravilhosas secretárias fazem tudo ficar lindo e organizado. As pautas são todas bem definidas. Temos infinitas reuniões para debates (muitas delas nem tão produtivas assim, é verdade). Enfim, poderia ficar aqui horas falando, mas o que quero mesmo contar é sobre o NOVO.
Minhas reuniões de pauta, atualmente, são cafés descontraídos com intenção e propósitos alinhados com o outro. NINGUÉM está ali contrariado. Nos reunimos por convicção, valores em comum e por afinidade. As salas de reunião, no meu caso, são uma grande mesa na Petalusa com cores. Sempre tem um vaso de flor, deixado por alguém do evento do dia anterior, e guloseimas de coffees ou um biscoito que uma parceira trouxe. Tem sempre uma cara nova com olhos brilhantes querendo conhecer outra cara nova e ali flutuam ideias incríveis de sonhadores que sonham sonhos, no mínimo, parecidos. Quanta troca! Criamos grupos, trocamos experiências, fazemos escambos deliciosos do que temos de melhor para oferecer e a sensação é a de que estamos cada dia mais ricos. Uma riqueza sem preço!
Os serviços que contrato vêm dessas redes de compartilhamento e, inclusive, alguns dos clientes também. Tudo sempre permeado pela generosidade e por muita seriedade. Tanta diversidade e necessidade de adaptação a novos espaços e formas de negociar, me tornam uma profissional muito mais versátil, mutante, adaptável e, claro, um tanto exausta. Quem disse que tudo são flores que atire a primeira pétala!
Essa nova forma de empreender e viver tem seus desafios próprios. Nem todo mundo sabe colaborar ou compartilhar. É um aprendizado! Nem todo mundo vai lembrar de apagar a luz ou lavar a louça no escritório de coworking. A secretária não existe e, se existe, não está ali à sua disposição. É preciso rebolar. Seu lixo, sua louça, seus rastros serão vistos por todos e esse é o espelho mais forte a enfrentar: nossos vícios e comodismos. Mas vale a pena!
No fim do dia, que muitas vezes demora a chegar, eu nunca penso “Não suporto meu trabalho. Que lugar tóxico. Que pessoas mesquinhas!“. Para mim, esse é o melhor sinal para a alma. Sigo convicta nessa nova economia do amor que escolhi.
Sou empreendedora social e cultural e já experimentei o financiamento coletivo (ou crowdfunding, como preferir). Consegui realizar sonhos profissionais que não realizaria se fosse só.
Por fim, atuar de forma colaborativa reforça meus valores apoiados na educação holística, nas terapias integrativas, na sustentabilidade do ser e do planeta, na abundância do universo. Acreditar que há amor nas relações profissionais me faz seguir firme nos meus ideais de fazer a diferença no mundo por meio do meu trabalho.
Viemos das tribos, sentávamos em rodas, dançávamos juntos, nos curávamos, compartilhávamos toda a nossa vida e é essa nossa essência constitutiva. Conecte-se primeiro consigo, descubra seus propósitos, valores e abra o coração e a mente para o novo e velho tempo. Vem experimentar! Vem SER COLETIVO!
Em tempo, gratidão eterna aos meus avós e pais pelos ensinamentos.
Foto: San Sharma/Creative Commons
3 Comments
BEATRIZ
Que legal!!
RENATA DE OLIVEIRA IDARGO
quem escreveu o post?
Débora Spitzcovsky
Olá, Renata! Tudo bem?
O texto é da Adriana Perazzelli, colaboradora da Eco Rede Social.