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Somente no Estado do Pará, um dos nove Estados da Amazônia Legal, 70% da madeira explorada é ilegal. Os dados são de um estudo de 2018 da ONG Imazon, que comparou as informações oficiais com imagens de satélite. O Dapoda, iniciativa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, pretende utilizar a madeira rejeitada nas podas de árvores da floresta urbana de São Paulo, o chamado “lixo verde”.
Ao contrário da cobiçada madeira coletada de forma ilegal, os resíduos provenientes da poda ou da remoção de árvores das cidades é um desafio de descarte para a gestão dos municípios brasileiros. A destinação dada a esses galhos, folhas e troncos de árvores se torna um problema ambiental. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, cerca de 45% de todos os resíduos gerados no país correspondem à fração orgânica – pouco mais de 36 milhões de toneladas de restos de alimentos e resíduos de poda. Somente no ano de 2019, o município de São Paulo gerou 50 mil toneladas de resíduos provenientes dos serviços de áreas verdes, que englobam poda e remoção de árvores e conservação de áreas ajardinadas.
Embora o município realize compostagem de resíduos orgânicos em pelo menos 34 parques municipais, a redução do uso de trituradores aumenta a demanda da prefeitura pelo uso de aterros sanitários. Os resíduos provenientes do manejo arbóreo feito pela Autoridade Municipal de Limpeza Urbana encaminhados aos aterros passaram de pouco mais de 16 toneladas, em 2017, para cerca de 23 toneladas, em 2019.
Outra disposição final dada ao resíduo de poda é a geração de energia. Seja na produção de briquetes, seja no uso de partes maiores dos troncos, como lenha, ambos os casos não exploram o potencial dessa matéria-prima.
“O que também gera gás carbônico. E do ponto de vista da economia circular é uma subutilização: você acelera a degradação e não fixa o carbono”, aponta Cyntia Malaguti, professora nos cursos de graduação e pós-graduação em Design. O projeto é um Laboratório Vivo de Design que reúne estudantes de arquitetura e urbanismo, design, artistas plásticos e pesquisadores da USP. O projeto investiga novas formas de utilização do rejeito das podas na produção de design experimental, entre elas a fabricação de móveis, brinquedos e pequenos objetos de madeira. Mas com um diferencial: traçar a rota tecnológica da madeira descartada – desde a poda, passando pelo transporte até seus usos potenciais.
O embrião do projeto foi um seminário internacional no Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura, do Urbanismo e do Design da USP, do qual a professora Cyntia é coordenadora científica. A edição de 2020 do seminário abordou o potencial do resíduo da arborização urbana para pesquisas e projetos de urbanismo, arquitetura e design. Após a participação no Nutau, o grupo que compõe o Dapoda teve o projeto selecionado pela Superintendência de Gestão Ambiental da USP para mitigação e compensação da emissão de gases do efeito estufa nos campi.