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Michelle Murta cresceu na cidade de Salinas, no interior de Minas Gerais, e tem no currículo cinco reprovações no Ensino Fundamental. Se você pensou que o motivo foi por ser uma má aluna, errou feio. Ela sempre foi dedicada e, ainda assim, não conseguia acompanhar a turma.
A razão, na verdade, é uma deficiência que existe no sistema de educação do Brasil como um todo: apesar da Língua Brasileira de Sinais, a Libras, ser reconhecida legalmente como um meio de comunicação e expressão no país, ela não é ensinada à população – e nem mesmo àqueles que se formam educadores. Como consequência, escolas em todo o país não são preparadas para ensinar pessoas surdas – e o cenário fica ainda pior em colégios localizados em regiões mais afastadas, longe das capitais, como o que Murta estudava.
O despreparo é tanto que a menina sequer sabia que tinha deficiência auditiva: os professores não conseguiram identificar sua condição. Depois de muitas reprovações na escola, foi quando se mudou para Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, que teve o diagnóstico de surdez, aprendeu Libras aos 23 anos e concluiu os estudos por meio do EJA, o sistema de Educação de Jovens e Adultos.
Dali em diante, Murta voou! Formou-se em Letras-Libras na Universidade Federal de Santa Catarina, passou em concurso público para docente na Universidade Federal de Minas Gerais e, neste ano de 2022, tornou-se a primeira surda a se formar Doutora na universidade. Sua tese, que fala sobre a estrutura interna dos verbos em Libras, foi defendida para mais de 100 pessoas na Língua Brasileira de Sinais.
Além do trabalho como parte do corpo docente da universidade, Murta se dedica a um projeto paralelo que visa levar formação em Libras para professores, sobretudo de regiões mais afastadas do Brasil, para que nenhuma outra criança ou jovem precise passar pelo desafio que ela enfrentou no seu processo de aprendizagem na infância. Inspirador, né?
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