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A série da Netflix da Marie Kondo ensina o método Kondo para desapegar de bens materiais e viver uma vida mais completa, com menos coisas. Enquanto eu concordo com o resultado final do exercício, o método em si me incomoda muito – e reforça a era do descartável, que eu já tentei explicar em reflexão anterior.
Eu tento praticar o minimalismo há pelo menos seis anos e, antes disso, confesso que já fui muito consumista. Por isso, considero minha casa cheia de coisas que, no fundo, eu não preciso. Muitas pessoas queridas, próximas de mim, acreditam que isso seja extremamente contraditório. Como consegue ser minimalista enquanto convive com tantos itens desnecessários.
Após o lançamento da série – e inúmeras indicações para assistir – consegui entender mais profundamente o que tanto me incomoda. A resposta para o minimalismo está na redução do consumo e não no desapego dos itens. Explico melhor: de nada adianta praticar o desapego e jogar vários itens desnecessários se você não consegue reduzir o ritmo que consome novos itens. Vira uma bola de neve.
Quando compro uma coisa hoje, assumo a responsabilidade dela. Assumo todo o recurso investido no item para que ele pudesse chegar em meu lar: os recursos naturais que compuseram sua matéria prima, a energia utilizada na fábrica, o trabalho de outras pessoas, a gasolina do transporte, o plástico da embalagem… Comprar e jogar fora (ou dar para outra pessoa, mesmo como “caridade”) é não assumir toda essa responsabilidade, é se esquivar de algo que você escolheu.
Marie Kondo prega a ideia de que se não “sparkle joy”, em tradução livre “traz alegria”, você deve se livrar do item, jogá-lo fora. E essa ideia reforça ainda mais a era do descartável que estamos vivendo (e precisamos parar!).
Minimalismo para mim é, primeiramente, reduzir o consumo e respeitar o item consumido. É encontrar novas utilidades para um item antigo, mesmo que um tanto gasto. É consertar aquela bota que caiu o solado e usá-lo por mais alguns meses (quem sabe anos?). É considerar toda cadeia produtiva e entender que você é responsável por cuidar de seus objetos e garantir um descarte adequado – quando realmente não tiver mais uso nenhum. Com isso em mente, nos forçamos a pensar milhões de vezes antes de fazer uma nova compra.
Os itens consumidos por mim de forma irracional, há mais de seis anos atrás, ainda estão presentes no meu dia-a-dia. Ainda são minha responsabilidade e eu talvez leve uma vida inteira para consumi-los de forma integral – e tudo bem. Aos poucos posso sim dar para pessoas que farão melhor uso, mas o ato de separar tudo e despachar para uma “casa de caridade” não é uma opção para mim, que preciso garantir bom aproveitamento de cada item. Garantir que eles não acabem em aterros sanitários sem antes serem usufruídos em sua totalidade.
Qual é a sua opinião?
Foto: picjumbo_com/ Creative Commons
1 Comment
Bruno Herzmann Cardoso
Jéssica, eu concordo parcialmente. Acredito que, diante do consumismo exacerbado que é sintoma dos nossos problemas modernos, o método da Marie Kondo deve ser usado como um basta, como um momento de virada. Talvez isso não fique muito claro na série, ou talvez nem seja a preocupação dela, mas eu acho que o método é eficiente em dar um novo significado ao consumo para a pessoa, “resetando” a relação com os bens materiais e facilitando que, dali para frente, a dinâmica de consumo seja diferente.
Concordo que esse não é o foco (a ideia do método me parece mais psicológica, não tanto social), mas, caso haja cuidado no descarte dos itens que já não trazem alegria, acredito que pode ser uma ferramenta interessante para incentivar o minimalismo.