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Nesses dias eu fiquei doente. Nariz escorrendo, febre, caganeira e todo aquele desgosto da vida que a doença traz.
Não fui o único. Muita gente próxima também ficou. O que não é de se espantar. Aliás, são dias sem chuva, numa cidade que queima bastante petróleo no ar. Numa cidade que tem uma quantidade ínfima de área verde por habitante. Esse verde que produz o oxigênio e filtra o ar que a gente respira. O ar que nutre o nosso corpo. Numa cidade em que se bebe uma água de origem duvidosa, principalmente nos últimos tempos, com diversas denúncias de contaminação. Numa cidade que a água está escassa. Essa água que a gente bebe e que nutre o nosso corpo.
São Paulo. A cidade que nasci e fui criado.
Esses dias de doença foram uma merda. Lógico. Mas me fizeram refletir: na correria do dia-a-dia, em que cada um é obrigado a fazer seu corre pra garantir o pão na mesa, o que estamos construindo, todos juntos? Pra onde a nossa cidade está caminhando nessa brincadeira? Mesmo sem que a gente perceba, nossos atos e escolhas no cotidiano – do cidadão comum ao governante – estão moldando uma realidade que é comum a todos. A cidade que a gente compartilha. Que se fosse ter uma cara humana nesse exato momento, talvez lembrasse eu anteontem, assoando o nariz enquanto cagava mole na privada com cara de derrota. A nossa cidade está doente. Constantemente formando pessoas doentes. Que cocriam a cidade doente. Que forma pessoas doentes… que bela sinergia.
Sistema Cantareira. Cada vez menos água em uma seca histórica. Problema nosso.
O fato é que estamos com um problema daqueles que não podemos gritar raivosos “AHHH, O PROBLEMA É SEU!”. Não podemos porque o problema é, inevitavelmente, nosso. É claro que nós todos respiramos o mesmo ar. Que usamos e bebemos da mesma água. Que ficamos doentes (também) por causa disso. O legal é que essa situação nos força a olharmos para aquilo que parece que esquecemos há um tempo: o espaço comum.
Na ânsia (e, sim, necessidade) de cuidar e melhorar a própria vida, acabamos nos esquecendo que não somos absolutamente nada sem o Outro. Talvez essa seja uma boa oportunidade pra retomarmos essa consciência comunitária (COMUNISTA! – calma lá, amigo.) A consciência de que estamos todos conectados, de uma forma ou de outra. De que somos interdependentes. Talvez seria legal se aproveitássemos esse cenário de crise ambiental pra pensarmos mais naquilo que compartilhamos, em tempos de tanto individualismo. De pensarmos se esse “cada um por si” em todos os campos da vida não está, no fim, tornando a cidade inabitável e a vida cada vez mais sem sentido. Talvez seja tempo de focarmos mais nos espaços e nos capitais coletivos e resgatarmos aquilo que nos garantiu a evolução como seres humanos: a cooperação.
Horta comunitária da Saúde. Antes, um terreno abandonado. Hoje, espaço de convívio comunitário produtivo.
Imagina se a gente usasse mais da nossa energia para resolver problemas mais fundamentais, que dizem respeito a todos. Se começássemos a perceber que investir na raíz dos problemas é muito mais vantajoso e – pasme! – econômico. Trabalhar o que é comum é bom pra todos no fim das contas, seja você trabalhador, vagabundo, coxinha, esquerdopata ou reaça. Estamos todos juntos, dançando no mesmo bolo. E acredite: trabalhar focado no desenvolvimento coletivo é gostoso. É prazeroso. Mas exige o mínimo, que é perceber que “eu podia ser mais feliz, vendo o outro ser feliz”, como diria a música de uns ~maconhêro~ aí. Ficar feliz com a felicidade do outro. Não é tão difícil, vai.
Ciclovias ganham força na cidade de São Paulo. Menos carros e poluição, mais saúde. Todos ganham.
Talvez se pensássemos mais nessas coisas não teríamos que respirar um ar de merda. Tomar uma água de merda. Talvez tivéssemos água sobrando. Bastante verde na cidade. 97 vezes mais ciclovias. Transporte público gratuito e movido a luz solar. Hortas comunitárias abundantes em tudo quanto é praça. Mais igualdade e mais integração. Troca. Uma educação que forma cidadãos questionadores e não apenas mão de obra. Paz. Talvez sobrasse tempo pra olhar no olho do Outro e se enxergar ali. Abraçar e curtir a beleza da vida, sem ter que se entupir de drogas(legais e ilegais) e selfies pra alcançar a felicidade que nos é vendida. Uma simulação de felicidade. Talvez a doença fosse coisa rara.
UTOPIA!! HIPPIE SUJO!! VAI TRABALHAR!! – já posso até ouvir. Ah, deixa eu sonhar, amigo. E sei que não sonho sozinho. Tem muita gente sonhando com um lugar melhor. E agindo por isso. Aqui. Agora. ABRAÇO!
Conheça o projeto PorQueNão? que busca soluções sustentáveis pelo Brasil.