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Me chamam a atenção as notícias e palestras a respeito da obesidade infantil e juvenil, que já se anuncia como uma questão importante também aqui no Brasil. E muitas inquietações e considerações povoam a minha mente.
A inquietação perante a realidade e a pesquisa de práticas no campo da Saúde e da Educação fazem parte constante da minha vida. E não é de agora! Lá pelos anos 2007-2008, questionamentos tomaram conta de mim. Por que crianças e adolescentes se alimentam tão mal, principalmente nos grandes centros urbanos? O afastamento gradual que tivemos durante décadas, de uma alimentação saudável e orgânica, com o advento da mecanização da agricultura, poderia ter sido diferente em cidades como o Rio de Janeiro? Que papel a escola e os educadores tinham nesse contexto que se anunciava, de obesidada e sobrepeso?
A partir dessas inquietações e da conversa com colegas na Universidade, conheci o movimento FARM TO SCHOOL, da Califórnia, e me encantei com sua proposta. Finalmente, uma resposta aos meus questionamentos!
Muitos dirão: “Mas modelos de outros países nunca dão certo quando os exportamos”. Ou ainda: “Experiências americanas são próprias para as suas culturas. Aqui no Brasil tendem a não apresentar resultados tão bons”.
Mas, como estudiosa que sou, penso que a ciência avança com as experiências e práticas, tanto bem sucedidas, como mal sucedidas, e deixando o senso comum de lado, iniciei uma pesquisa sobre o movimento FARM TO SCHOOL e suas ações e resultados.
O encantamento com tudo que passei a descobrir me deu a certeza de que queria ver algo parecido algum dia aqui, em terras tupiniquins. Vou tentar resumir por quê!
O FARM TO SCHOOL, que começou timidamente lá pelo fim dos anos de 1990 em Santa Mônica, na Califórnia e na Flórida, cresceu – e muito. Atualmente, a iniciativa já se espalha por mais de 47 Estados americanos, não mais como um movimento, mas como um Programa apoiado pelo Departamento de Agricultura Americano e se propõe a: “fortalecer os sistemas locais e regionais de alimentação, assegurando saúde para todas as crianças”.
Para isso, combina alguns ingredientes: alimentos frescos produzidos localmente passam a estar mais presentes na alimentação dos estudantes, enquanto os alunos estudam sobre a agricultura local, benefícios de uma alimentação saudável e plantio.
O FARM TO SCHOOL enriquece a ligação entre consumidores e produtores familiares, que oferecem produtos frescos e saudáveis em escolas e pré-escolas. Os alimentos ficam expostos em “cantinas escolares”, que servem como uma espécie de feira, onde os produtores locais oferecem produtos frescos e saudáveis aos estudantes, que aprendem a experimentar nas escolas uma alimentação de qualidade, compartilhando esses ideais com seus familiares.
E mais: o FARM TO SCHOOL também vai para a sala de aula, pois integra o tema ao currículo a partir de atividades lúdicas. Entre outras ações, as crianças exploram as frutas e vegetais frescos em aulas de culinária e “teste do gosto”. A partir de uma abordagem multidisciplinar entendem como se dá o crescimento das plantas nas aulas de ciências, artes e atividades nas hortas escolares, além do conhecimento sobre agricultura local.
Embora o programa ocorra em quase todos os Estados americanos, em uma infinidade de escolas, tem uma formatação local, mas tem um ponto em comum, propiciar aos alunos o conhecimento de como o alimento chega até a mesa deles e uma alimentação de qualidade.
Assim, o programa favorece:
– A escola, pois serve uma alimentação fresca e saudável, implementando uma educação nutricional e práticas de plantio e saúde.
– Os agricultores locais, pois dá suporte aos mesmos conectando-os às escolas e pré-escolas, e gerando ganhos financeiros.
– A comunidade local, pois reduz a emissão de carbono ao evitar o transporte dos produtos, favorece a economia local e estimula atividades como hortas escolares e programas de compostagem, criando um ambiente saudável em torno da comunidade escolar.
Incrível esse FARM TO SCHOOL, não é mesmo?
*Mirian Teresa de Sá Leitão é educadora, especialista em Gestão Ambiental, mestre em Ciências e membro do Coletivo Hortação
Foto: Divulgação/FARM TO SCHOOL