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Para Karine Vieira, assistente social e ex-detenta do sistema prisional de São Paulo, o que muda a trajetória de uma pessoa são as oportunidades que para ela são oferecidas ao longo da vida – e, no caso das mais de 820 mil pessoas presas no Brasil, tais oportunidades são quase inexistentes, o que faz aumentar cada vez mais os casos de presos reincidentes no país.
Atualmente, pelo menos 42% das pessoas que ocupam as prisões brasileiras já foram presas mais de uma vez. Atuar para oferecer oportunidades de sair da vida do crime a quem já esteve preso e, assim, ajudar a reduzir esse índice de reincidência é a missão do Instituto Responsa, que busca ajudar ex-presidiários a entrar no mercado de trabalho.
A iniciativa foi criada por Karine em 2018, tendo sua própria trajetória pessoal como inspiração. Por 15 anos, ela viveu de forma ilícita, envolvida com tráfico. Mesmo depois de presa, não vislumbrava outras formas de viver – exatamente porque as únicas oportunidades oferecidas para ela para sustentar os filhos só vinham de traficantes.
Um bico numa papelaria – oferecido por quem até hoje não sabe que ela já havia sido presa – foi o que a ajudou a recomeçar: garantiu renda para que ela tivesse mais tranquilidade para cursar um supletivo para finalizar o Ensino Médio e, na sequência, cursar Serviço Social.
Oferecer essa primeira oportunidade de trabalho pós-prisão é o grande objetivo do Instituto Responsa, que para fazer esse trabalho mantém, atualmente, parceria com 14 empresas. Primeiro, a organização oferece apoio psicossocial e jurídico a quem sai da prisão, depois garante capacitação técnica e comportamental e, por fim, encaminha a uma oportunidade profissional, fazendo acompanhamento de, pelo menos, um ano para ajudar ex-detento e empresa em qualquer desafio que tiverem pelo caminho.
Em 4 anos de atuação, o Instituto Responsa já beneficiou mais de 1,8 mil ex-detentos. Desses, 56% já foram encaminhados para o mercado de trabalho formal. Agora o trabalho de Karine está focado, sobretudo, em combater os preconceitos que existem a respeito de pessoas que já foram presas e ampliar o número de empresas parceiras para poder ajudar cada vez mais ex-detentos a recomeçar suas vidas. Às vezes, a única coisa que falta é uma oportunidade…