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Os municípios brasileiros possuem variadas problemáticas sociais, econômicas e ambientais e, cabe ao Estado, como gestor maior, elaborar políticas públicas que visem abordá-las. É por meio de planos de governo e estratégias de desenvolvimento ambientalmente sustentável que podemos reverter ou minimizar o cenário crítico em que se encontra o meio ambiente das cidades.
A urbanização é o processo de conversão do meio físico natural para o assentamento humano, acompanhada de necessárias, drásticas e irreversíveis mudanças no uso do solo, que resulta em uma série de impactos ambientais, nos quais são verificados com maior intensidade nos finitos recursos hídricos (destruição de nascentes, poluição e assoreamento de córregos), destacando-se também os problemas de desmatamento e desertificação.
O processo de urbanização contemporâneo desrespeita a dinâmica dos ambientes naturais, altera os ciclos biogeoquímicos, como por exemplo, o ciclo da água (ou hidrológico). A intensa, desordenados e sem os devidos estudos técnicos de impacto de vizinhança, a ocupação do solo, nos municípios, criou amplas áreas impermeabilizadas, consequentemente, tem-se a diminuição da cobertura vegetacional aliada à obsoleta e usual técnica de pavimentação. Desta forma, políticas públicas mais eficazes de reordenação no uso do solo (nas áreas urbanas) e o cumprimento das leis ambientais serão uma medida mitigadora, pois a cidade é também, sob a ótica da ecologia integral, é um sistema aberto e complexo, rico de instabilidade e contingência.
Com a diminuição da cobertura vegetal tem-se a redução no potencial de infiltração de água da chuva no solo, refletindo numa sobrecarga na rede de drenagem, produzindo áreas com extravasamento (inundações e alagamentos). Somado a esta sobrecarga, as ilhas de calor e o descarte incorreto de resíduos nas vias públicas, pela população, propicia e acentua o aparecimento de patologias de veiculação hídrica, como a dengue. Por outro lado, o desequilíbrio ecológico provocado pelo desenvolvimento urbano a qualquer custo, acabou por eliminar grande parte dos predadores naturais (rãs e sapos) de vetores de arbovirores humanas.
O Programa Nacional de Combate a Dengue (PNCD, 2002) destaca que o mosquito Aedes aegypti encontrou no mundo moderno condições muito favoráveis para uma rápida proliferação, com altíssima capacidade de adaptação ao meio urbano. Segundo a FUNASA (Fundação Nacional de Saúde) a urbanização acelerada criou cidades com deficientes planos de saneamento básico e de drenagem, com uma intensa utilização e descarte incorreto de materiais não-biodegradáveis (como recipientes descartáveis de plástico e vidro) e alterações climáticas (ilhas de calor), desta forma, desencadeou condições socioambientais favoráveis a expansão do mosquito transmissor da dengue.
Segundo o Ministério da Saúde, a dengue é uma doença infecciosa, com quadro epidemiológico caracterizado pela ampla distribuição do mosquito Aedes aegypit em todas as regiões do país, com uma circulação simultânea de quatro tipos de vírus (da família Flaviviridae), dengue sorotipo 1 (DEN 1); dengue sorotipo 2 (DEN 2); dengue sorotipo 3 (DEN 3) e dengue sorotipo 4 (DEN 4). Sua transmissão é através da picada da fêmea do mosquito infectado, e as epidemias ocorrem principalmente no verão, durante ou imediatamente após o período de chuva, apresentando um padrão sazonal, com maior incidência nos meses mais quentes e úmidos, o que corresponde aos primeiros meses do ano, que vai de Janeiro a Maio. O mosquito encontra nas poças d’água, que surgem após as precipitações, as condições necessárias para seu desenvolvimento (a água parada e limpa, que não infiltra devido à impermeabilidade do solo).
O Aedes aegypit apresenta comportamento estritamente urbano, sendo raro encontrá-lo em áreas silvestres, vive em torno de 30 dias, a fêmea chega a colocar em média 100 a 200 ovos de cada vez. Essas desovas estão condicionadas à ingestão de sangue, e ocorrem após 2 ou 3 dias, por isso necessita alimentar-se periodicamente. É durante essa alimentação que se ela estiver infectada pode transmitir o vírus da dengue ou se contaminar com o vírus, caso se alimente de uma pessoa que estiver com dengue. Os ovos do mosquito são postos diretamente na água parada, milímetros acima de sua superfície em recipientes com água, como tambores, tonéis, pratos de plantas, garrafas, latas, lixo descartável etc. Um ovo do mosquito pode sobreviver em média por um ano no seco. Segundo o Instituto Oswaldo Cruz, mesmo que o local onde o ovo foi depositado fique sem água, não significa que a ameaça acabou, assim, que ovo encontrar umidade, ele poderá eclodir, transformando em pupa, larva e chegar, a forma adulta.
As intervenções sobre o aspecto vetorial são, em sua maioria, de difícil implantação, pois dependem das relações entre o poder público, a população e os aspectos relacionados ao meio ambiente. Sendo assim, a ocupação irregular das cidades (forte característica fomentada pelo populismo melodramático medíocre interessado nos votos de eleitores iludidos com a falsa ideia de solução imediata com a instalação de loteamentos precários) precisa ser combatida por uma questão de promoção de saúde individual e coletiva. Precisa-se, em caracter de urgência, mudar o modelo de urbanização vigente para um sustentável e dar prioridade aos planos de saneamento e drenagem mais eficientes ou vamos conviver com epidemias de dengue e outras arbovirores. A drenagem urbana deve ser refletida associando a esfera ambiental com saúde pública orçamentária.
1 Comment
Patricia Gentil
Ola Patricia, excelente artigo, inteligente e muito bem escrito. Sem duvida precisamos de mais investimentos para poder implantar ideias de desenvolvimento sustentável, que devem sim ser o fator primordial na concepção e no desenvolvimento das cidades.