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O PorQueNão? chegou na capital do Brasil! Nessa nossa passagem por Brasília, conhecemos uma porção de iniciativas transformadoras… Fomos a ocupações, manifestações, feiras agroecológicas… Uma das visitas que mais nos tocou foi a um sítio de produção orgânica – de base agroecológica, núcleo de um CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura). Nos mostrou que sim… Brasília é muito mais do que o lar de políticos (infelizmente, em sua maioria, corruptos – AH VÁ!). Tem muita coisa interessante rolando por aqui.

Para nossa sorte, rolou reunião do núcleo de CSA ali na Toca da Coruja, em Sobradinho, uma região administrativa do Distrito Federal. Chegamos logo de manhãzinha num sábado ensolarado; muito bem recebidos com carinho e café da manhã comunitário. Cada um que chegava, trazia algo para agregar à mesa. Logo começou uma tagarelice só (como de costume quando tem muita gente boa no mesmo lugar) e, em seguida, iniciamos uma volta pelos canteiros fartos do casal de agricultores Andreia e Fábio. No meio de todo aquele espaço rico em diversidade, não tinha como não pensar no momento histórico que nos encontramos. Principalmente quando nos referimos à produção de alimentos e à realidade do campo no Brasil.
O cenário da agricultura brasileira é, para não economizar palavras, lamentável. O agronegócio – ou “agrobussiness” – movimenta enormes quantidades de dinheiro, sendo responsável por quase 1/4 do nosso PIB, e gera milhares de empregos na sua extensa cadeia produtiva.
Lindo, né? Sim! Magnífico! Maravilhoso! Mas só se não considerarmos os profundos efeitos colaterais dessa prática agrícola:
– devastação das nossas florestas e biomas (principalmente do Cerrado e da Amazônia);
– exaustão e poluição dos recursos hídricos (diversas nascentes e rios estão secos e há contaminação das águas pelos venenos e fertilizantes sintéticos, em sua maioria derivados do petróleo);
– expulsão dos povos do campo (povos tradicionais são constantemente massacrados pela força da expansão do agronegócio);
– e desmantelamento das bases que sustentam a vida na Terra (a expansão das monoculturas está, a largos passos, exaurindo a capacidade regulatória dos sistemas vivos, que demoraram milhões de anos para se estabelecer).
Para dificultar ainda mais a situação, lembremos que somos o país da bancada ruralista, que legisla e articula em favor dos interesses dessa indústria.
Michel Temer, presidente interino, extinguiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário: um dos poucos espaços políticos para a agricultura familiar (responsável por 70% dos alimentos consumidos no Brasil, vale lembrar) e a agroecologia – muito diferente do Ministério da Agricultura, que é basicamente voltado à expansão do agronegócio. Aliás, ele poderia muito bem se chamar Ministério do Agronegócio. Os tempos são tenebrosos pra quem olha um pouco além do curto prazo. Mas não percamos as esperanças! Tem realmente MUITA gente trabalhando por uma realidade diferente.
Para nossa felicidade, existe um mundo de pessoas que se identificam com o filósofo e idealizador da agricultura biodinâmica, Rudolf Steiner, que costumava dizer que nosso sistema econômico precisa encarar o mundo como um único organismo vivo. Afina, o que fazemos dentro de casa, na indústria ou na lavoura impacta todos os habitantes desse planeta. Aqueles que concordam com o pensamento, devem estar se sentindo revoltados diante da situação agrária brasileira e pensando “A gente precisa se unir pra mudar isso aqui!”.
Mas como cada um de nós pode ajudar? Quais são as outras formas de relacionamento entre agricultor e consumidor? Como posso fazer a diferença se nem ao menos tenho terra ou habilidades para o cultivo?
Eis que surge uma alternativa extremamente inteligente para mudar o futuro rural e urbano: apresentamos para vocês o conceito de CSA (só para relembrar, sigla que significa Comunidade que Sustenta a Agricultura). A ideia é simplesmente sensacional! E nem um pouco nova: surgiu na década de 70, espalhando-se rapidamente por países como Japão, Suíça, Alemanha, Estados Unidos, França e China.

Basicamente, ela diz que: uma vez que nos preocupamos com a procedência dos alimentos e sentimos a necessidade do envolvimento com a terra, PorQueNão nos tornarmos coprodutores?
Nesse sistema, fornecedor e freguês se juntam num coletivo colaborativo. A união traz renda fixa ao produtor, valoriza seu trabalho e incentiva os jovens a continuarem vivendo em sua terra natal a partir do investimento compartilhado entre todos os participantes do grupo. Por outro lado, os compradores garantem seu alimento fresco, livre de venenos, estimulando o cuidado com a terra; têm acesso a maior diversidade de alimentos (como as PANCS, Plantas Alimentícias Não Convencionais), eliminam os atravessadores e recebem uma cesta com uma média de 10 alimentos TODA SEMANA em local pré-determinado.
Mesmo que o objetivo do CSA não seja meramente econômico, é quase que inevitável que a economia aconteça. Segundo estudo realizado pelo Instituto Kairós, o preço elevado dos produtos orgânicos depende do canal de comercialização, e, quanto mais atravessadores, mais caro fica; o que justifica os preços abusivos dos supermercados. Aqui o orgânico não é só mais um item ~green~ e gourmetizado.
Para entender melhor, fomos na reunião de um ano do CSA Toca da Coruja, convidados pela Deise, uma das cotistas e coprodutoras. Foi muito interessante presenciar a troca de conhecimentos entre os produtores e os visitantes ali presentes. A horta é um laboratório vivo e comum a todos.
Antes do movimento se formar, o casal de agricultores plantava apenas para consumo próprio. Todo o processo de comercialização se iniciou junto com os próprios consumidores. Hoje esse grupo de CSA tem máxima capacidade de 22 cotas, ou seja, 22 cestas por semana com média de 10 produtos. O custo mensal para cada cotista é de R$ 241, com a possibilidade de ser dividido entre duas pessoas, porque a cesta é realmente bem servida.

Como funciona a entrega dos alimentos? Fomos lá conferir. Toda terça-feira, as cestas são levadas até o ponto de encontro escolhido, a casa da Tatiana, na Asa Norte de Brasília. O horário é das 8h às 11h da manhã e para algumas exceções são guardadas até o final da tarde.
Em um ano de experiência – trata-se de um “CSA bebê”, como disse a Andreia -, o grupo enfrentou alguns imprevistos e não fechou o planejamento financeiro como gostaria. Agora cabe a todos repensarem alguns processos para esse novo ciclo. As decisões são tomadas de maneira conjunta, o que faz todos os envolvidos se encontrarem esporadicamente e, por meio de assembleias, desenvolverem sabedorias de convivência por um viés mais cooperativo. É uma família que se aproximou pelos interesses em comum. O maior deles é a crença de um futuro mais colaborativo e saudável. Como o próprio slogan diz: “Da cultura do preço para a cultura do apreço!“.
O mais legal de tudo isso é que você pode começar a organizar um grupo de CSA na sua cidade ou comunidade! É fácil e com certeza vale muito a pena, em todos os sentidos. No site do CSA Brasil, você encontra algumas informações relevantes.

Assista a entrevista que fizemos com a coprodutora de outro grupo, o CSA de São Carlos, em dezembro de 2014 lá na Veracidade:
Seguem algumas fotos, abaixo!



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