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Texto originalmente publicado em Eco Rede Social
Tem algumas mudanças, atitudes, engajamentos que dão um rumo diferente a nossa vida. Parece que certos impasses são fundamentais para nos dar outra direção e guiada. Às vezes, a escolha dessas coisas nem nos passa pela cabeça, e nem imaginamos como podem impactar completamente a nossa vida.
O incerto é a gente ficar provando, tentando, e tentando até realmente gostar de algo. Depois que gostamos, trocamos. Quando enjoamos, escolhemos algo novo, para dar aquele ‘gás’ e mostrar que de fato a vida é legal e não é tão chata assim.
É nos detalhes que a mesmice se instala. É nos detalhes que a vida parece trocar de cor e é ainda nos detalhes que a gente consegue ser feliz. Sim, não é necessário grandes mudanças – como trocar de emprego, companheiro ou até viajar – para compreender que a vida é um fardo e que merece outra direção, senão a gente cansa logo e claro, enjoa.
Mas é tão difícil entender e logo compreender os detalhes. Ver estes detalhes parece impossível aos olhos de quem anda ocupado, atrasado, pensando no amanhã. E é o óbvio que se instala. Percebo isso pelos meus amigos, de fato muito ocupados. Logo, enxergar detalhes não nos pertence. É melhor ver a mudança, senti-la, senão do que adianta viver?
ESSE FARDO QUE É VIVER
A frase já é bem tradicional. Viver parece um fardo. Um peso que carregamos nas costas. O peso de trabalhar, dos compromissos, de cumprir aquilo que os outros esperam ou projetam em nós. Isso nos parece tão comum, uma sociedade que exige, logo um ser que faz.
E assim estamos sempre. Numa roda, em um círculo vicioso entre trabalhar, compartilhar momentos de lazer, e por aí vai. Alguns se cansam. Procuram saídas. Vão fazer alguns cursos. Outros levam, carregam e acreditam que planejando, comprando, as coisas mudam. Mas a verdade, meu amigo, é que as coisas não mudam. Elas vão continuar as mesmas. Aquele seu desejo insaciável de consumir. Mas não é sobre consumismo que esse texto se propõe, por mais que eu acredite que o consumismo esteja inteiramente ligado 100% com a nossa vida.
Esse texto propõe uma reflexão sobre escolhas que nos modificam. Talvez para melhor, a nosso ver, ou para ser diferente aos olhos dos outros. Existem algumas portas que nos modificam totalmente. Você abre uma porta e tem a sensação de ter aberto a porta para o mundo, para uma luz dentro de você.
E isso é genial. Pode acontecer com qualquer um e não duvido que aconteça quando você compra aquele carro que sempre sonhou -nossa, que bom. Mas essas mudanças, essas aberturas acontecem quando a gente se permite a olhar para dentro de nós. Quando nos permitimos ser atingidos pela mudança que é sempre essa vida.
ESCOLHENDO A YOGA
Essa mudança aconteceu quando eu decidi fazer um curso de yoga em janeiro de 2015. Não que essa escolha me fez sair do lugar que estou, ou deixar de fazer o que eu fazia, ou trocar de parceiro. Isso, claro, pode acontecer. Mas eu continuo morando na mesma casa, escrevendo, namorando, fazendo os mesmos planos que ainda considero importantes. Mas essa escolha me permitiu ver dias mais cheios, mais luminosos, abertos.
Não cor de rosa. Estamos longe disso. Mas dias bem vividos. Sonos dormidos. Beijos beijados. Abraços apertados. Relógio de lado. Café da manhã com esperança. Chuva com alegria. Filme demasiadamente feliz. Família unida. Sonhos.
O que seria de nós sem sonhos? Não estou aqui vangloriando que esta escolha tenha me deixado mais feliz ou realizada, mas foi uma escolha que esta abrindo as possibilidades. As possibilidades de aceitar e entender que nem tudo é como a gente quer. Sim. E essa talvez seja uma dificuldade possível de encontrar em tantos casos, escolas, faculdades.
A gente planeja, a gente faz, a gente se empenha. E a coisa não acontece. Mas por quê? Não é pra ser? É pra desistir? Não. É pra gente olhar pra dentro e perceber que na verdade nem sempre somos capazes de mudar e conseguir algo. Que nessas horas se não olharmos com toda a lucidez dentro da gente, estaremos sempre perdidos, nos achando fracassados, perdedores, azarados. É isso que construímos quando não olhamos para dentro de nós. Mas o que de fato explica olhar para dentro de nós? A melhor explicação e caminho, eu diria, é a meditação. Sim, parece que ela tem sido pauta de muitos textos e assuntos que abordam a sua importância. Mas somente quando estamos livres, sem pré-julgamentos, sozinhos, é que somos capazes de filtrar cada passo, emoção e sentimento.
Estou a três anos tentando mestrado. E, a cada seleção que eu não conseguia, me sentia uma fracassada, uma perdedora. Conseguia de fato entender onde eram as milhas falhas e o que deveria acertar para uma próxima seleção, mas era incapaz de compreender porque esses ‘nãos’ surgiam em minha vida. Eu sentia o tempo passando. Os anos passando. Eu me sentia parada. Como se não tivesse avançado em nenhuma etapa. Somente depois do curso de yoga eu percebi que a falha estava dentro de mim e que não conseguir, não era uma falha. Era uma parte do processo. Um processo que eu vi que depois de tanto tempo me modificou, me transformou. Eu ainda continuo tentando o mestrado e confesso que o último ‘não’ não me abalou a ponto de eu desistir. O que virá, não sei. Mas algumas coisas acontecem simplesmente para a gente parar. Parar, respirar e sonhar.
FAÇA ESCOLHAS, REPARE NOS DETALHES
Eu parei. Eu fiz uma escolha. Eu não estou afirmando que qualquer um que fizer um curso de yoga, ou até uma aula, vai sentir a sua vida modificada, mais alegre e preenchida, não é isso. Pra mim, o curso de yoga tem me ajudado. Eu ainda tenho defeitos que precisam ser trabalhados e confesso que não tem sido fácil, talvez eu precise da vida toda para trabalhar eles, mas tentarei.
O que eu digo é que, quando vamos fazer uma escolha, precisamos nos entregar de coração. Não esperar que milagres aconteçam e que sua vida mude completamente. Às vezes, algumas escolhas nos estacionam ainda mais, cabe a nós perceber o que fazer de diferente.
E os detalhes têm nascido pra mim de uma forma tão bonita que eu não havia percebido antes. Claro, são percepções e visões diferentes. A yoga está mudando a minha vida. Devagar, mas está. Eu deixo a bola para vocês me contarem o que mudou na vida de vocês. Que mudanças deixaram vocês melhores ou piores? Às vezes, uma mudança que nos tira do lugar, mexe, nos deixe triste, depois nos transforma de forma positiva. Mas não se esqueça da lucidez. A meditação e a yoga têm me ajudado a encarar o fardo dessa vida.
1 Comment
Clara
adorei seu texto, belíssimo, de um carinho… de uma verdade…