Share This Article
Nascida em uma comunidade de Massais em Mosiro, no Quênia, Selina Nkoile cresceu sendo ensinada pela sua família que “mulheres boas” têm como propósito de vida “casar, agradar seus maridos e ter filhos”. A menina era proibida de estudar e aos 7 anos foi obrigada a noivar com um homem adulto.
Antes de casar, no entanto, como todas as outras garotas de sua comunidade, Selina deveria passar por um ritual de Mutilação Genital Feminina – prática que consiste em cortar a parte externa da genitália feminina para garantir que mulheres não sintam “prazer carnal” e, assim, sejam consideradas “puras”. Tida como “cultural”, a Mutilação Genital Feminina é proibida por lei no Quênia desde 2011, mas continua sendo praticada em comunidades Massai.
Selina se rebelou contra toda essa realidade, brigou com a família e foi estudar longe de casa, na Naning’oi Girls School and Rescue Center, primeira escola do Quênia a oferecer educação gratuita para meninas Massai. Formou-se e foi morar em Nairóbi, capital do país, com medo de voltar para casa e ainda ser obrigada a casar.
Em Nairóbi, teve a oportunidade de continuar estudando e começou a ter contato com conceitos de agricultura orgânica. O conhecimento despertou Selina para seu grande propósito de vida – aquele que, desde pequena, tentavam reprimir dentro dela: ajudar a outras meninas Massai que enfrentam Mutilação Genital Feminina e são obrigadas a casar na infância – e, de quebra, contribuir para o combate à desnutrição nessas comunidades. Isso porque, por falta de conhecimento, os Massai praticam agricultura de subsistência 100% baseada em grãos, o que faz com que muitas crianças menores de 5 anos sofram com o problema, por falta de nutrientes encontrados apenas em frutas e vegetais.
Selina voltou para casa e construiu, bem próximo de sua comunidade, o Projeto Nashipai Maasai. Trata-se de uma fazenda orgânica – que também funciona como escola – que acolhe meninas Massai que querem estudar e se libertar do destino que seu povo reserva a elas. O local – o único num raio de 500 quilômetros que aceita meninas para estudar – ensina as disciplinas básicas às garotas e também conceitos de agricultura orgânica, com o objetivo de que aprendam sobre o tema e possam viver da prática, caso desejem, para conquistar sua independência.
O espaço já acolhe 400 meninas. E não só! Serve de refúgio a mulheres já adultas que também querem se libertar da vida que levam na comunidade, em constante submissão. Depois da fundação do Projeto Nashipai Maasai, cerca de 20 mulheres Massai que viviam na comunidade de Selina também foram acolhidas no local, onde passaram a trabalhar como agricultoras orgânicas.
Selina Nkoile, você inspira!