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Apesar do corte orçamentário do governo no setor científico, dá orgulho saber que muitos estudantes e profissionais brasileiros seguem resistindo e, mesmo sem incentivo, conseguem fazer história. É o caso de Thaís Vasconcelos, que teve sua tese de doutorado considerada a mais importante para a história da Biologia.
Thaís tem apenas 29 anos, fez seu doutorado em Londres, graças ao programa Ciências sem Fronteiras, e acaba de se tornar a primeira latino-americana a ser premiada pela Linnean Society, uma das mais importantes e respeitadas condecorações do mundo das ciências. A jovem é graduada em Ciências Biológicas e possui mestrado em Botânica pela Universidade de Brasília.
Sua tese analisa a história evolutiva das plantas por meio do material genético de diferentes espécies. Sua pesquisa foi considerada extremamente relevante por permitir que os cientistas compreendam as relações de parentesco entre as diferentes espécies, podendo até mesmo traçar uma linha do tempo.
Em suas pesquisas, Thaís descobriu, por exemplo, que a pitanga e o eucalipto fazem parte da mesma família e que, algumas espécies que hoje estão aqui na América do Sul, chegaram no planeta Terra há 40 milhões de anos: “Por meio da Antártida, quando esta ainda não era coberta por gelo”, explica Thais. “A gente sabe disso por causa do parentesco entre as plantas daquela região com as daqui e também por causa de fósseis na Antártida e na Patagônia”, completa.
Thaís também conseguiu mapear a relação do formato das flores com as abelhas responsáveis pela polinização. “As flores dessas plantas precisam ter um formato específico para que a polinização aconteça e esse formato mudou muito pouco ao longo dos últimos 40 milhões de anos, o que não era um resultado esperado. Geralmente, as flores mudam muito de formato ao longo da evolução por causa da seleção por polinizadores”.
Sua tese foi publicada no periódico científico Comparative Biochemistry and Physiology. Além de ter sua pesquisa muito elogiada, os avaliadores consideraram o trabalho “excepcional e não apenas pela sua ciência. Ele é ricamente ilustrado com impressionantes micrografias eletrônicas de varredura e retratos florais, bem como com figuras eficazes e muitas vezes muito bonitas, que simplesmente transmitem ideias e processos complexos para o leitor não especializado”.
Quanto à falta de incentivo por parte do governo, Thaís lamenta: “É importante mostrar que aqui tem muita gente boa também e que a gente já entenderia muito mais sobre a nossa biodiversidade se houvesse mais incentivos à pesquisa dentro do Brasil. Espero que esse prêmio me dê mais energia para tentar fazer a diferença aqui, porque, às vezes, ir para fora do país parece muito atraente, parece que as coisas serão mais fáceis lá”.