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Nos lembramos como se fosse hoje: ao fim de mais uma das sessões de documentários que gostamos de assistir sobre como funciona a sociedade contemporânea e as possíveis soluções para incentivar uma cultura de paz e o equilíbrio ecológico, social e individual, olhamos um para a cara do outro e pensamos:
– Como a gente não sabia disso até hoje? Isso é muito importante pra não ser de conhecimento geral!
– Por que que essas pessoas de diferentes áreas ainda não se conhecem?
E, então, tivemos a ideia que mudaria nossas vidas: PorQueNão criar uma teia para juntar as pessoas e as ideias brilhantes que existem hoje no país? Decidimos então ir atrás desses seres inspiradores para ver tudo com nossos próprios olhos. Não queremos simplesmente repassar as informações; queremos vivê-las, testá-las e compartilhá-las. Começou assim nossa metamorfose ambulante (literalmente).

Mas antes de continuar essa história, deixe-me contar um pouquinho sobre a gente. Nascidos e criados em São Paulo, nos conhecemos no Ensino Médio e vivíamos rotinas bem “normais”. Fomos para a faculdade, trabalhávamos, saíamos com os amigos, morávamos com nossos pais e estava tudo correndo superbem em nossas vidas. Até termos acesso a assuntos como agroecologia, permacultura, economia colaborativa, saúde holística, plantas medicinais, escola livre, e por aí vai.
Foi uma mistura de indignação e ânsia de saber. Como é que pessoas que estudaram suas vidas inteiras em ~boas escolas e boas faculdades~ ainda não sabiam direito a realidade macro do mundo contemporâneo e, o pior, não tinham consciência nem do que estavam comendo e consumindo no dia a dia? Como ainda não sabiam que o mundo natural está à beira de um colapso quase que irreversível? E o mais importante, como ainda não faziam ideia de que existiam incríveis opções transformadoras (e inspiradoras) sendo colocadas em prática a todo o momento?

O primeiro passo foi ingressar em um curso de horta orgânica no Sítio A Boa Terra. Foi nossa primeira experiência de pertencimento. De reconexão com os ciclos naturais. Não conhecíamos ninguém ali, mas parecia que já éramos todos amigos. O casal proprietário, Joop e Tini, nos contaram a história dos agrotóxicos, suas péssimas memórias com os “defensivos” e nos ensinaram a botar a mão na terra, a fazer parte do planeta como pessoas conscientes e ativas. Como voltar para casa e fingir que nada daquilo tinha nos impactado? Não tinha mais volta! Já tínhamos sido abduzidos pelos nossos novos conhecimentos. Já não éramos mais as mesmas pessoas. Começamos a olhar para todos os lados como nunca tínhamos olhados antes.

A partir de então, a curiosidade não parou de nos seguir! Foram anos de planejamento, questionamentos, medos e libertações, até que fomos embora de São Paulo para morar em Mococa. Pronto, o primeiro passo havia sido dado. Ali aprendemos a morar juntos, ter horta em casa, cozinhar, viramos vegetarianos, testamos cosméticos naturais, fazíamos nossos próprios móveis e decoração e… compramos um carro. Uma S10 a diesel, ano 2000, de um proprietário muito cuidadoso. Estava linda! Enquanto o Guto montava o camper atrás (uma casinha removível da caçamba), eu tomava conta do resto do planejamento. O intuito era fazer a conversão do carro para utilizar também óleo vegetal como combustível. Era perfeito, íamos viajar reciclando óleo de cozinha! Aí veio o primeiro baque.
Em uma viagem por Minas Gerais, capotamos o carro. Era de noite, garoava, dirigíamos a 60km/h, conversando. Então, veio uma curva e a caçamba do carro rodou na pista. Como bons urbanóides que éramos, não fazíamos ideia de que era perigoso andar com a caçamba da S10 vazia. Quando dei por mim, já tínhamos batido na guia do outro lado da pista e estávamos voando. Pensei: “Agora já era, morri.” Caímos numa ribanceira e não tínhamos a menor ideia do que tinha lá embaixo. O susto foi muito grande. Felizmente, não aconteceu nada demais com a gente. Acho que foi a partir desse episódio que começamos a trabalhar com toda garra possível. Tínhamos sede de mudanças. Eis que surge a Fiorinão nessa história, nossa casinha (móvel) muito amada.

E como fizemos para conseguir recursos financeiros para viajar o Brasil? Com o dinheiro dos empregos passados, conseguimos comprar o carro e alguns equipamentos, e ainda fazer cursos. Para garantir que a expedição saísse do papel, nos preparamos para um realizar uma campanha de financiamento coletivo. Foram dois meses entre gravações e edições. Com muito esforço (e muita encheção de saco dos amigos), nos juntamos em rede e conseguimos arrecadar o dinheiro necessário. Foi uma experiência incrível. Saber que existem pessoas que acreditam na gente e no nosso trabalho sem ao menos nos conhecer, nos deu ainda mais força para continuar. O sucesso da campanha foi uma conquista conjunta. Éramos um time a favor de uma causa, uma pesquisa itinerante. Arrecadamos R$ 36.750,00. Com os descontos, ficamos com pouco menos de R$ 35 mil. Quem quiser ver mais detalhes sobre, clique aqui.
Partimos de São Paulo no dia 15 de dezembro de 2015. Seguimos rumo ao sul do país, percorremos os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em pleno verão. Nos impressionamos com o engajamento dessas regiões na área de agroecologia. Dentre as 27 iniciativas que catalogamos, 12 são voltadas para o tema, outras 5 têm foco em permacultura, 3 trabalham pela saúde e humanização dos procedimentos clínicos, 2 são escolas, uma trabalha com empreendedorismo social e uma outra foca em tecnologia. O interessante é que absolutamente todas estão conectadas pelos mesmos ideais.
Em seguida, percorremos os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás. Cada região tem suas peculiaridades e expertises. Para compartilhar os ensinamentos dos mestres que encontramos no caminho, gravamos entrevistas, que você pode assistir aqui. Reproduzimos ainda fotos e relatos em nosso site e nas redes sociais.
Muito mais importante do que a quantidade de pessoas que consomem as informações que colocamos em nossos canais, é a interação que temos com todos. Damos muito valor as mensagens, conversas e e-mails para que o debate continue e para que possamos evoluir juntos. Estamos sempre aprendendo e ensinando, com muito carinho e fé na preservação da vida no planeta de forma equilibrada.

A troca não seria tão rica e transformadora se não fosse assim. Fica aqui o nosso agradecimento a todos que contribuem
diariamente com palavras e apoio. Hoje já são três anos de projeto e 7 meses de estrada. Trocamos nossas casas por uma Fiorino, mais conhecida como Fiorinão, toda adaptada por dentro com geladeira, fogareiro, armário, mesa e baú, entre outros objetos necessários para viver. Para dormir, temos uma barraca automotiva que abrimos em cima do carro mesmo, sem perigo de alagar. As reações se dividem em duas: ou as pessoas amam ou odeiam. Para nós, é um sonho.
Nesses 7 meses de estrada, percorremos quase 14 mil quilômetros, gastamos R$ 12.703,00 (incluindo gastos como seguro, ipva, combustível, pedágio e alimentação), mais de 20 mil pessoas fazem parte da rede PorQueNão? nas mídias sociais e visitamos 48 iniciativas até o momento. Não temos como mensurar o impacto e os conhecimentos gerados a partir do projeto, mas os números dão uma pincelada na grandiosidade desse movimento que cresce cada dia mais no país.
E como selecionamos as iniciativas que visitamos? Partindo da sabedoria de que “o crescimento infinito é incompatível com um mundo finito“, frase do economista e filósofo Serge Latouche, não restam dúvidas de que grande parte da nossa economia e atividades humanas estão caminhando na direção da insustentabilidade. Estamos consumindo mais recursos do que o próprio planeta consegue regenerar.

Então, por que continuamos a buscar incessantemente o crescimento econômico como se nada estivesse acontecendo? O grande desafio de cada um desses empreendimentos e iniciativas que visitamos é criar mecanismos que vão além dos padrões atuais, modificando o presente e buscando um futuro mais sustentável. A criatividade se tornou necessidade. Nesse estágio de transição, as pessoas que se aventuram nessa missão costumam ter trabalho em dobro: é necessário quebrar paradigmas para criar o novo, ao passo que se viram com as ferramentas já existentes. Em resumo, é necessário que a iniciativa se mantenha economicamente para que seu projeto continue existindo, inclusive para o melhor desempenho das atividades, mas na medida do possível.
Chega de viver para lucros exorbitantes. Sigamos pelo caminho do meio. É possível desenvolver iniciativas sem exploração de pessoas e do meio ambiente. Com felicidade, abundância e respeito à natureza, tudo fica mais gostoso. Se desejamos um futuro mais bonito e que se sustente a médio e longo prazo, é esse o caminho que devemos seguir. Além da parte financeira, é essencial que as iniciativas visem melhorias sociais e ambientais no entorno.
O objetivo principal do PorQueNão? é conectar pessoas e ideias que já trabalham por um presente e um futuro melhor. Ao longo do tempo, percebemos grupos ou indivíduos trabalhando isoladamente em vários cantos do Brasil nas áreas da saúde, educação, tecnologia, economia e agricultura, entre outras tantas. Todos partindo de uma visão mais sistêmica, integral e holística da realidade para atuar em diversas frentes. Tudo está interligado, não podemos focar em um assunto só sem pensar em um contexto mais amplo e, se nos organizarmos direito, podemos fazer muito mais mudanças positivas em nossas próprias vidas e na dinâmica de toda a sociedade.
Prossigamos juntos na construção de outras realidades, mais bonitas, inclusivas, ecológicas e democráticas!
Confira, abaixo, algumas de nossas deliciosas memórias.









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