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Você sabia? Segundo a ONU, com as restrições de viagens causadas pela pandemia de COVID-19, cada vez mais turistas buscaram destinos ao ar livre e em lugares remotos como opção. No entanto, esse maior fluxo de pessoas levou também ao aumento de lixo nas montanhas.
Para falar sobre o assunto, a ONU News conversou com o alpinista Waldemar Niclevicz.
Niclevicz foi o primeiro brasileiro a chegar ao topo do Everest, a montanha mais alta do mundo, em 1995. Além de desbravar o destino, icônico para muitos aventureiros, ele já escalou mais de 200 montanhas e reforça que elas abrigam quase metade de todos os principais pontos da biodiversidade do mundo, além de fornecerem água doce, todos os dias, para metade da humanidade.
“As montanhas são importantíssimas para todo o planeta, principalmente para o ser humano e para a nossa sobrevivência, devido, principalmente, a esse aspecto fundamental que é ser fonte de água. Não só para países onde tem glaciares no alto das montanhas, mas também para países tropicais, como o nosso, onde temos florestas nas montanhas. Essa floresta representa também uma verdadeira caixa d’água, porque ela retém a água da chuva, alimenta os lençóis freáticos e garante a sobrevivência de grandes cidades, principalmente no Brasil. São Paulo, por exemplo, que enfrenta uma crise hídrica, depende da água da Serra do Mar, Rio de Janeiro e Curitiba – onde eu moro.”
Niclevicz afirma que, com a destruição da natureza, as montanhas são os refúgios que restaram para quem busca estar perto de áreas verdes. “Nos últimos anos, na última década absolutamente, com certeza, o homem começou a buscar mais a natureza. Porque o que restou de natureza intocada e ainda primitiva está nas montanhas. O que estava fácil de acesso o homem destruiu, ocupou, construiu cidades, usou para a agricultura e continua usando. Aqueles espaços que não puderam ser ocupados viraram refúgios naturais. São as montanhas. Então, quando alguém sente vontade de caminhar numa floresta, essa floresta está hoje na montanha. Quando sente vontade de tomar um banho de cachoeira, essa cachoeira, ou esse rio limpo onde ainda se pode tomar um banho ou beber sua água, está na montanha.”
Ainda sobre o crescimento do turismo, o alpinista não vê como um problema. No entanto, ele entende que a falta de cuidado dos visitantes, assim como a falta de preparo e respeito para enfrentar os desafios da montanha, podem acelerar a degradação desse ecossistema.
“Esse visitante moderno tem que estar preparado para visitar um ambiente natural. Ele precisa ter um comportamento adequado. Hoje essa pessoa joga lixo, retira plantas, destrói a natureza, corta e abre trilhas, desloca pedras, abre atalhos. E o ambiente da montanha é extremamente instável. Esse ecossistema atingiu seu equilíbrio durante muito tempo. O fluxo de pessoas e seu comportamento não pode rompê-lo, por isso tem que ser acompanhado.”
Para encerrar, Niclevicz afirmou que espera que o Ano Internacional do Desenvolvimento Sustentável das Montanhas, decretado pela ONU em 2022, ajude na conscientização de todos, desde guias e agências até governos e administradores dos parques onde elas estão. O alpinista brasileiro lembra que esses locais são muito especiais, mas muito delicados e exigem cuidados. Para ele, todo o esforço deve ser colocado para manter o ambiente no seu estado mais natural possível, garantindo que continue existindo para as futuras gerações.
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Com informações de ONU News